Trazias aquele ar desolado
Para quem a vitória traz o amargo sabor da derrota
E larga as armas à soleira da porta
De quem só uma ínfima parte obtém
De tudo o que lhe fora prometido
E não menos do que o mundo
Ou de quem regressa de uma viagem grandiosa
Repleta de aventuras inusitadas e dignas de registo
Descoberta de espécies jamais catalogadas
E convivência com povos de línguas estranhas
Pronomes impronunciáveis
Costumes excêntricos e até imorais
Sem que isso te livre da sensação de desânimo
E da besta mortífera da insatisfação
Essa pedra no sapato macerando a carne
E da qual por mais que sacudas não te livras
Do chamamento encantado do desejo
Parece que chegaste aos confins
E na verdade pouco ou nada avançaste
Ainda que tendo percorrido a Terra inteira
Lido mais livros do que muitas bibliotecas do mundo
E vivido mais paixões arrebatadoras do que tantos sedutores
O mundo é demasiado colossal e cruel
Não para o nosso desejo e sonho que sempre são ilimitados
Mas para o tamanho das nossas mandíbulas
E o forro do nosso estômago em relação à totalidade do nosso apetite.
Comentários
Enviar um comentário