O trabalho ou a vida

É insofismável a sensação de liberdade recuperada finda a hora de trabalho. Não sendo por acaso que alguns se refiram ao trabalho, salvo as devidas distâncias, como a uma prisão. Sendo igualmente certo que muitos nunca se livram completamente do trabalho, seja porque este lhes atormenta continuamente os pensamentos, seja por não terem propriamente um horário fixo. Por outro lado, livrarmo-nos do trabalho, nem que seja por umas horas, as horas de descanso, não significa sermos automaticamente livres, outras formas de exploração e de alienação se sucedem. Mas a sensação de liberdade e de alívio quando deixamos atrás de nós a porta do nosso emprego é insofismável. Libertarmo-nos do seu jugo, do jugo do trabalho com as suas relações de exploração e de poder, com as suas hierarquias, com a sua submissão à ética do dever…, é libertarmo-nos de uma parte substancial da nossa vida que continuamente nos aliena e nos afasta de uma existência livre e entre iguais – por mais que nos procurem convencer que a condição do assalariado, ou do prestador de serviços a recibos verdes, é uma condição economicamente livre. Libertarmo-nos do trabalho não é apenas libertarmo-nos da exploração que sobre nós exerce o patrão e toda a sua hierarquia -- o que já não é pouco… -- é libertarmo-nos de toda uma estrutura e respetivo paradigma que constitui as nossas sociedades burguesas; é recusar a separação entre a esfera da sociedade civil (a esfera da liberdade – ainda que limitada e muitas vezes apenas aparente) e a esfera da produção, das relações que se procuram manter privadas entre os economicamente dominantes e os economicamente dominados. Por fim, libertamo-nos do trabalho na sua dimensão de economia burguesa é recuperarmos não apenas a nossa liberdade fundada nessa igualdade radical que não suporta a divisão social do trabalho, nem os títulos sociais, nem as hierarquias. 

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