Uma conquista

 


No dia seguinte estava nas nuvens, senhor absoluto do seu reino que se estendia a não menos do que a todo o seu horizonte visual, um reino que se confundia com o seu mundo, interior e exterior. É certo que era um pouco estranho e muito vexatório ter perdido a virgindade já na casa dos trinta mas aquela manhã de triunfo e de enlevo ninguém lha tirava, era exclusivamente sua. Apesar de já adulto sentia que finalmente superara outra etapa da sua vida, não importa verdadeiramente com quem e do seu atraso. Não importa se ela, Medley, já tinha ou não um filho e a diferença de idades era de uma década. O que importa, pensava na sua cabeça, é que ao menos já não morreria virgem, ignaro das incomparáveis volúpias da heterossexualidade (no caso). Certo que não foi logo à primeira, quando precipitadamente se atirou, guloso, com a palma da mão aberta inteira, ao baixo-ventre de Medley e esta prontamente o repeliu assegurando-lhe que não era assim, que não chegavam ao primeiro ou segundo encontro e ela logo abriria as suas pernas para ele. Robert ficou paralisado de vergonha, as faces enrubescidas, conformado ao irrefutável facto de ser um ignorante nas matérias amorosas, mais ainda quando estas tocavam a intimidade carnal. Mas na noite seguinte… Oh, na noite seguinte! Robert não contava que fosse agora a sua vez, principalmente depois da reprimenda da noite anterior, e fora a própria Medley que depois de uns tantos preliminares o convidara a entrar dentro de si através do seu membro ereto. Robert procurou a todo o esforço ocultar a sua inexperiência, de forma alguma ousando confessar que era virgem, o problema é que nunca tinha metido o preservativo em frente a uma mulher e acabara por ter de ser Medley, com os seus dedos rudes de lavandeira, a ajudá-lo a enfiar o balão no falo… Se Medley se apercebeu que o seu recente namorado era completamente inexperiente nos assuntos do coito teve pelo menos a elegância de não o desmascarar. Foi um tanto doloroso para Robert penetrar a sua amante, mas não demorou a que se sentisse confortável dentro dela, como se tivesse entalado o seu músculo num forno que não queimava e era agradavelmente húmido, tanto que se demorou mais do que o desejável para a sua parceira a ponto de esta, por duas ou três vezes, lhe ter pedido que fosse mais vagaroso nas suas investidas e, por fim, entediada com os movimentos mecânicos e atabalhoados de Robert, comentasse: “Então! Vamos passar a noite inteira nisto?”. Robert preferia pensar em outras mulheres, aquelas que verdadeiramente desejava, enquanto copulava Medley. Na verdade tinha-lhe vergonha e algum desprezo. Mas aquela glória já ninguém lha tirava, podia morrer em paz que já não morreria ignorante dos segredos da intimidade com o outro sexo. Conquista que tanto mais o enaltecia e dignificava quanto era absolutamente inconfessável. E nesse dia trazia um sorriso tonto estampado naquela cara de pervertido que só o tornava mais parvo ainda do que aquilo que efetivamente já era.  


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O salto de fé exigido ao católico pelo marxista

Concentração e distração: contradições da nossa época

A ideologia como confissão da impotência política