A verdade é que ninguém estava preparado para isto

Para todo este esplendor

E é tudo demasiado grandioso e épico

Indescritível e improvável

Neste mundo que será sempre um certo mundo

A ponto de podermos passar uma existência inteira

Feridos de deslumbre, hipnotizados pela nossa própria cegueira,

Seduzidos por aquilo que é para nós inconcebível

E incomportável 

E mesmo a paisagem mais insípida e desoladora

Repleta de construções em aço e estradas em alcatrão

Contém em si a vertigem do único, do inefável,

Por todo o lado, em toda a parte,

Mesmo nas mais ínfimas das criaturas

Dos mais universais dos elementos

A mesma mistura paradoxal, inextrincável, 

Da mais absoluta das necessidades

Com a mais absoluta das contingências

O universo inteiramente vibrando na sua infinita gratuitidade

A recriar-se permanentemente sem que lhe consigamos vislumbrar

Um princípio ou um fim 

Uma finalidade ou uma orientação

E as nossas palavras começam a ceder 

E o coração a não acompanhar as exigências da natureza

A ponto de principiarmos a definhar por impotência

É fácil nos deixarmos asfixiar por esta realidade

Que constituirá sempre para nós o limite 

A toda a nossa vontade de domínio

Viver é esse platónico aprender a morrer no imensurável campo

Do inapropriável.


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