Labirintos
“Em todas as ruas te encontro/ em
todas as ruas te perco”. Robert gostava de imaginar Medley procurando-o de
noite pelos bares e cafés. De olhos arregalados, fitando tudo a seu redor,
ansiosa por um só vestígio de Robert, uma silhueta, uma sombra, um rasto da sua
figura alta e esguia, quase espectral. Por vezes equivocando-se, vítima do seu
desejo, irrefreável como a sede. E tropeçava na sua precipitação, a mente ludibriava
os sentidos ultrapassando-os. Na sua pena
capital Robert resistia a adormecer, pensando incessantemente em Medley,
desesperando em tornar a vê-la. E contava as horas e masturbava-se a pensar no
seu corpo desvelado – o qual, de resto, nunca sequer tinha visto. Queria tanto
que ela sofresse por essas ruas molhadas e escuras enquanto o procurava, mesmo
ocultando diante da sua companhia os seus reais intentos. E o que diriam quando
finalmente se encontrassem? Talvez nem houvesse tanto para dizer quanto para
agir ultrapassando a barreira do medo e do pudor. Medley, com os seus longos
cabelos castanhos que vaidosamente tanto gostava de alisar, perdida no seu
labirinto, no labirinto da imaginação de Robert. Permanentemente assediada pelos
rapazes, mas resistindo sempre, qual fortaleza acometida por todo o tipo de
salteadores, não encontrando em nenhum um candidato à altura do “seu Robert”. Pelo
menos era assim que Robert gostava de a imaginar enquanto batia em casa a
cabeça nas paredes sem saber o que fazer para Medley não lhe fugir sob as suas
próprias barbas. E talvez não houvesse mesmo mais nada a fazer. Se realmente
lhe desejava toda a felicidade do mundo como interiormente se mentia, então
esta passava por não a ter por amante quando não conseguia evitar o tê-la por
amada.
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