Morte e cobardia


 

Desejava com todas as suas forças morrer, mas não tinha coragem de se matar. Aliás, se algo o distinguia era a cobardia. Uma cobardia mal resolvida que o amesquinhava pessoalmente. Facto que apenas se exacerbava diante da questão do suicídio. Então, nos períodos de maior angústia e melancolia, quando o sentimento de nojo de si mesmo e de fracasso era levado ao extremo, punha-se como que a rezar para que a morte o levasse durante o sono. Cobarde como era evidentemente clamava por uma morte suave e indolor. Pedia sem endereçar a sua prece a algo definido, a um nome ou a uma entidade (mais concreta ou difusa). Fosse Deus, a natureza, o acaso, o que quer que seja, desejava apenas que o matasse durante a noite. Estava farto de viver, de pontapear os dias para diante. A rotina autodestruía-o. O que agudizava o seu tormento era a falta de coragem. Gostava de olhar do último andar do centro comercial para baixo, como se o seduzisse a altura vertiginosa qual canto de sereia. Pensar no que o impedia de se jogar da varanda e como seria desde os segundos que acompanhariam a queda do seu corpo até ao baque derradeiro. Quão longos seriam esses breves segundos? Pensava em tudo isso até Medley pousar a sua mão no ombro pedindo-lhe para que seguissem. Jonas sabia que um dia essa mão não estaria mais presente e, nesse momento, talvez a oportunidade e a coragem finalmente se encontrassem. Então sorria num misto de ternura e de amargura.   


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